domingo, 16 de novembro de 2014

O cardápio do Gabriella

Valtim.

O balcão do restaurante tinha sido reformado. O Gabriella a cada dia tornava-se mais caprichado. As mesas com suas toalhas rendadas, protegidas pelas lâminas de vidro, e os arranjos florais davam o tom de regionalismo que a cozinha exigia. Nas paredes, os quadros enfeitavam e marcavam a intelectualidade do lugar, respaldando o habitual bom papo e mostrando que a boemia não é o ócio, que a boemia é lazer, e como o lazer é a mudança do ritmo de trabalho, a boemia também é produtiva. Diante de tanto, o proprietário mandou confeccionar em couro, com letras douradas impressas a fogo, o cardápio. Coisa chique. Numa sexta, porém, chegou Valtim, apressado como sempre:

- Chega, negrada, que hoje é jogo rápido!
- Calma, rapaz, senta e toma uma na calma. Sugeriu Bruno.
- O doutor vai tomar o quê?
- Moésio, eu quero uma cervejinha!

Assim que chegou a cerveja, Valtim foi logo bebendo com rapidez e tirando com guardanapo a espuma do buço despediu-se de todos. A pressa do compromisso, uma audiência no fórum, fez com que ele não continuasse com os amigos na maratona etílica. Mas, para surpresa de todos, vinte minutos depois, retornou Valtim e com a mesma pressa:

- Negrada, que merda, quando já ia no meio do caminho é que eu vi que na pressa fiz confusão e troquei minha agenda pelo cardápio aqui do Bruno! Bota mais uma, Moésio! 

(Foto: Totonho Laprovitera)

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